do controle

taryno-matic

momentos de controle são como presentes equivocados. é a camiseta com manga caída que sobra no braço, o açúcar do doce que você não pode comer, o laço mal feito que tem que ser cortado à tesoura para abrir a caixinha, o livro repetido da lista da semana. nunca vivi sem controlar tudo ao redor – ou pelo menos vivi achando que controlava. e com isso só fiz colecionar um emaranhado com punhados de ilusórios cenários, maquiadas condutas, fantasiosas palavras. no controle perdi o rumo de onde vivem os finais bonitos (ou pelo menos os mais dignos), de onde vêm os cabides que sustentam as brancas nuvens, de onde nascem os impulsos. aqueles impulsos reais que podem nos levar a lugares que nunca acreditamos que existam.

controlar é a falsa ideia de ter o mundo aos nossos pés. de ter o peito aberto para encarar com força qualquer coisa que seja. de distribuir abraços sem consequências. de perambular pelo caos com a maior disposição do mundo. mas não tem pureza, nem leveza. não posso mais nem dizer por aí que é fato consumado. não controlamos nada ou conseguimos controlar muito pouco. as folhas caem quando bem querem, meu coração adormece somente no tempo em que quer, balões murcham antes que eu queira e os meus cigarros acabam sem que eu perceba. as coisas e sua vida própria. a minha própria vida e seu sangue jorrado por  muito menos. a falta de controle estremece meus sentidos, abala meu pulso firme, cutuca o meu ombro e me faz franzir a testa. e ao mesmo tempo é a única certeza de que posso ter. e é o que eu vou ter que me agarrar se quiser chegar além.