o que me tange

à medida que o tempo passa, mais raro algo nos tange. hoje me surpreendi com um lançamento musical que conseguiu resgatar memórias preciosas. inclusive, cada vez mais, tenho entendido que toda e qualquer memória é muito valiosa, portanto, minha frase anterior se tornou uma redundância. e que bom estar aqui, do jeitinho que eu nem imaginava que estaria, avaliando meus próprios textos à medida que os digito. bom demais revisitar, reviver, repensar. todos os “re”, todos os “des”, toda licença poética que a minha língua portuguesa brasileira me permite.

ainda me emociono. muito. mas fácil não é mais, não. tem um tempinho que as coisas mudaram e a gente não sabe explicar muito bem o porquê. e, tudo bem, afinal, quem sabia o que ia sentir em uma pandemia mundial? meu cacoete é me pegar pensando nos outros. nas perdas deles. que, de alguma forma, são minhas também. tô tentando seguir em frente, sabe. que nem eles. que nem você. o que me mantém firme é lembrar que todo mundo está (meio que) tentando.

eu não sei muito da vida, eu não sei muito o que fazer, mas uma coisa eu sei fazer muito bem: sentir. sempre senti. e, por saber sentir, sempre quis contar. sempre quis dividir. sentir muito dói, mas também inspira, leva a gente pra onde nem imaginava. a gente tem que saber identificar o que sente.

hoje sei que é desabafo. o meu alento é que é de um jeitinho acolhedor. eu gosto de acolher. acolher eu e você. eu e os meus. eu e os dos outros também, por que não? se não for pra dividir amor e carinho, melhor não estar ali. pra mim a vida é assim. radical? não acho, me policio quanto à entraves inúteis. por isso, hoje vou dormir pensando: “tá vendo como a vida pode ser mais fácil do que a gente imagina?”. pode. e nem é positividade tóxica, não, é sobrevivência, sabe. a vida não é mel, nunca foi. por isso, se não houver força, como seguir? se não houver inspiração pra continuar, como continuar? hoje, eu vim aqui deixar registrado que, poxa, eu quero muito seguir. e só depende de mim. e eu vou conseguir.

*nota da autora: arrisco dizer que, há uns 10 anos, eu usaria o verbo “punge”, ou invés de “tange”. claramente, estou mais leve. esse post é um inocente e solitário convite a quem quer voar, como eu, que tento há tanto, entre altos e baixos. mais baixos que altos. acreditando em baixos melhores (isso não fez sentido mas a autora tá aliviada). seguimos.