por mais que eu tente só

Sara Cuadrado

por mais que eu fique só, por mais que eu saia só, que eu permaneça só, são as pessoas as maiores transformadoras dos dias. olha, eu sempre fui assim, na minha. na minha quietude, na minha boca fechada, no meu canto. desde bem pequena eu sou assim. até que descobri que por mais que eu assistisse a um filme e ficasse empolgada; andasse de bicicleta na andradas sábado de manhã e ficasse feliz; sentasse num banco da praça da liberdade e ficasse inspirada; criasse colagens bem bonitas e sentisse orgulho; visitasse a cidade que quisesse e sentisse amor; é das pessoas que vêm grande parte da felicidade.

eu sei me virar bem. muito bem até, inclusive. já ouvi muitos dizendo não entender como realizo certas coisas. como crio certos momentos. como cresço tão bem sozinha. eu sei como fazer o meu dia ficar alegre. sei como fazer a minha vida ficar completa. sei bem tudo isso. o que aconteceu foi que um dia eu quis muito ser assim: eu sozinha. eu conquista. eu mesma. sempre eu. mas outro dia acabei percebendo o poder que outra pessoa pode ter na minha vida. e é uma coisa muito louca isso porque se eu tenho uma certeza na vida é a de que eu consigo fazer qualquer coisa sozinha. e mesmo com essa certeza me acontece isso.

quando alguém me faz rir. quando alguém me fala o que eu precisava ouvir. quando alguém dedica cinco minutos pra me escutar. quando alguém pergunta se o final de semana em são paulo foi legal. cara, é sensacional perceber que alguém tá ali na sua. mesmo que não seja nada demais. mesmo que não esteja tão perto de você assim. mesmo que já não faça parte da sua vida há 10 anos. o que vale é o que acontece agora, afinal.

pra mim é bem difícil aceitar o outro como coadjuvante da minha vida. como extensão do que sinto. como parte de uma dupla comigo. como um pedacinho de mim. porque a minha vida sempre foi de desencontros. sempre foi de sonhos partidos e ilusões massacradas. ela sempre foi bem estranha, na real. e eu cheguei a um ponto em que não quis mais dar atenção, sabe como? eu decidir abrir mão de entender e larguei tudo pra lá. aceitei traçar caminhos sozinha e tem dado muito certo. até que chegam as pessoas. e “estragam” tudo. são as pessoas que me lembram de que eu posso tentar ser não tão sozinha assim. e que, apesar de eu realmente querer muito estar sempre só, elas me fazem acreditar que talvez um dia eu consiga abrir meu coração e colocá-las ali dentro de verdade.

por mais que eu tente ficar longe, muito longe, sempre vem alguém que, sem querer, me faz pensar que às vezes eu preciso, sim, não ser tão só eu.

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♪ para ouvir lendo ● yet again – grizzly bear

foto: sara cuadrado