apaguei o meu roteiro

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entendi que posso fazer o futuro virar vontade, o presente virar novidade e o passado virar saudade. até pouco tempo eu via o futuro bem aqui, pertinho. era capaz de traçar todas as rotas que teria que seguir para chegar até lá – e com direito a detalhes de percurso. roteirizar a vida, sabe como? até que me esforcei em concentrar somente no que estava vivendo e me toquei de que, poxa, eu não podia continuar ditando fatos que nem sabia se aconteceriam mesmo. era um dia bem bonito aquele em que consegui, inclusive. comi poeira de alguns quilômetros de estrada, senti a grama úmida de outono munida do livro da vez e, no meio do som tímido das árvores, percebi que não precisava de mais nada ali. era um daqueles momentos em que nos sentimos completos, realmente. e a verdade é que em todos os dias que vivemos podemos estar plenos, desde que imersos no gerúndio do que acontece ali. é como perceber que nada mais que esteja fora interessa.

eu quis muito que o meu passado se tornasse álbum de fotos. daqueles que dá vontade de ver de vez em quando. de sentir orgulho do tanto de coisa que mudou seu sentido lá atrás para se transformar em lição e memória.

porque a vida não pede muito quando a gente aceita o seu próprio roteiro, moldado em tempo real. tipo roteiro sem ensaios, sem preparo, sem perfeição. viver o que acontece da melhor maneira possível. acreditar que pode mudar, voltar, apagar ou até viver outro roteiro relâmpago que você nem fazia ideia de que poderia existir. acreditar que você é, sim, capaz de transformar circunstâncias. entendi que a vida é cheia de faíscas que se apagam. mas que voltam a brilhar quando tudo o que nos acontece vira lembrança.

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♪ para ouvir lendo ● no promises – icehouse

foto: shawna lemay