aceitar o desencontro

Vintage suitcase with wooden chair in front of the gate

eu nasci em um ambiente que aceita muita coisa. tipo a alta do leite. a gasolina que acaba no meio do deserto. a água fria do chuveiro quando acaba a luz. e com isso eu aprendi a suportar as coisas. quando acontecia uma “tragédia” dessas, o meu pai me dava um beijo. e dizia que “ia ficar tudo bem”. ele me dava um kinder ovo. ou uma revistinha da turma da mônica. e eu esquecia. claro que o tempo passa e aí complica. meio que fica um tiquinho mais difícil esquecer o que não queremos que aconteça. mas eu me lembro do bombom sonho de valsa que ganhava. do ursinho que eu abraçava. do “vai ficar tudo bem”. coisas que hoje soam como “$1,99” mas que na época ajudavam muito, principalmente quando se é uma criança e seus pais estão dormindo e seu irmão é sete anos mais velho e está desbravando o mundo.

eu sempre acreditei que a vida é mais legal do que esquisita. e olha que a minha é bem estranha de verdade. quem convive comigo não entende certos resultados porque me acha “legal”. já quem não me conhece acha que eu tenho todo o reino de uma princesa. mas quem sabe o que realmente vivemos somos nós mesmos – e em geral é sempre uma vida muito batalhada que, por ter muitos desencontros, vez ou outra resolve dar uns presentinhos para equilibrar. do tipo um mergulho na piscina. um pedaço de chocolate. um abraço de colega novo. um elogio perdido na noite. e sabe o que faz a gente seguir em frente, mesmo sabendo que existe um rombo dentro do coração? justamente estes pequenos presentes. aqueles que a revista capricho não valorizou quando você tinha 14 anos. nem aqueles que a agência de intercâmbio em nova iorque faz a propaganda. eu decidi me apegar ao mínimo para entender que quando conseguir o máximo, toda a felicidade do mundo estará nele. 

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♪ para ouvir lendo ● fleetwood mac– landslide